no personagem;

Diversas as formas como podemos pensar a construção de um personagem a partir da utilização da maquiagem. A rotina, o humor e o passado são alguns dos textos que podemos materializar, baseados na estrutura e na intenção narrativa, simplesmente maquiando um personagem. Mas antes de estender tal explicação, cabe a definição mais detalhada do que é a maquiagem de um personagem.

Se reduzirmos o uso da maquiagem à mera aplicação cosmética sobre a pele, corremos o risco de limitar a expressão artística à uma utilização técnica em favor do embelezamento ou da reparação. Maquiar é mais que espalhar produtos. No cinema, no teatro, no exercício cênico de maneira geral, todo elemento plástico utilizado para caracterizar o estado físico e mental de um personagem pode ser pensado a partir da maquiagem. Digo 'pensado', pois tendo como objeto de análise um óculo, em que departamento devemos classificá-lo: figurino ou maquiagem? Materialmente não passa de uma máscara, por isso nem sempre será apenas parte do figurino. Pensar a maquiagem é mais que aplicá-la.

Na maquiagem expressiva, batom e poeira tem valor equivalente, diferenciando-se apenas na intenção de uso. Podemos, talvez devemos, desenvolver a maquiagem de um personagem baseado em intenções dramáticas. Sangue é maquiagem, mas barro também pode ser. Seguindo a mesma razão, uma cicatriz pode tanto ser um óbvio ferimento, um acontecimento prático, atual ou instantâneo, como também pode ser pensado dentro de uma organização dramática à representar um complexo passado do personagem. Tudo, é claro, baseado em uma intenção artística, narrativa, ideológica, etc.

Fazer a maquiagem é menos importante que pensar a maquiagem. Nem todos os personagem que conhecemos foram maquiados. Apropriando-se, como um grande exemplo, dos filmes apresentados no seminário sobre Cinema Novo, estes optaram por não fazer uso da maquiagem, porém de forma alguma, a deixaram em segundo plano. O não-maquiagem, quando utilizado intencionalmente, também faz parte de uma técnica e de um pensamento artístico e tem a mesma capacidade estética-expressiva de outros filme onde a aplicação da maquiagem foi muito mais apresentada.

Concluindo, temos então na maquiagem a possibilidade de plastificar elementos que vão muito além de composição visual, e sim, que formatam toda a narrativa e suas intenções estéticas. Fazer maquiagem é, antes de qualquer outra coisa, pensamento ordenado à expressividade de um personagem.